A luta feminina pela conquista de espaços e igualdade na sociedade não é atual, como todos sabemos. Ao longo do tempo, diversas personalidades fortes marcaram a história com conquistas que, apesar de nos dias de hoje parecerem simples, abriram caminho para que pudéssemos ver mais de nós ocupando espaços que antes nunca foram nossos: um deles, é a liderança em tecnologia.
Já protagonizamos diversos feitos nas ciências, na política e, atualmente, a presença cada vez maior de mulheres na tecnologia traz a esperança de que podemos estar onde desejamos.
A verdade é que já existiam mulheres na TI há muito tempo, antes mesmo do surgimento do primeiro computador. Um exemplo é a inglesa Ada Lovelace, matemática e escritora que pode ser considerada como a primeira programadora do mundo quando, em 1843, desenvolveu o primeiro algoritmo processado por uma máquina.
Mesmo após séculos deste acontecimento, o protagonismo feminino no setor de tecnologia ainda está distante. No entanto, apesar de ser um caminho percorrido a passinhos de bebê, mais mulheres têm conquistado este mercado, o que pode nos trazer a sensação de enxergar uma luz no fim do túnel.
Mulheres, liderança e o mercado tech
Para que as mulheres alcançassem direitos trabalhistas mais igualitários (apesar de ainda não serem totalmente equivalentes em diversos lugares) foi uma luta e tanto. E a chegada até posições superiores no mercado de trabalho mostra que ainda temos muito o que avançar.
Nos últimos anos, percebemos uma sequência de progressos e retrocessos na luta das mulheres por igualdade ao redor do mundo. Ao mesmo tempo em que tivemos, pela primeira vez, uma mulher na vice-presidência dos Estados Unidos, vimos a perda de direitos básicos de diversas afegãs com o retorno do Talebã no Afeganistão.
Além do mais, não podemos descartar o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as mulheres, que de acordo com o portal de notícias G1 e o Fórum Econômico Mundial, o período estimado para a conquista da igualdade de gênero no mundo também aumentou, passando de 99,5 anos para mais de 135 anos. Durante a crise sanitária mundial, diversas mulheres tiveram uma dupla jornada de trabalho muito mais intensa do que a que tinham antes, muitas entraram para o grande número de pessoas desempregadas no Brasil e outras que se encontram em um cenário de vulnerabilidade social.
Mesmo com todas estas dificuldades, as mulheres também encontraram espaço em um dos setores que mais cresce economicamente: a tecnologia. Aumentaram os números de mulheres inseridas na TI, assim como daquelas que enxergam grandes oportunidades neste mercado.
Em um cenário onde a busca por mão de obra qualificada é incessante, uma forma de amenizar estes gaps nas contratações e demandas do mercado é contratando mais profissionais mulheres. Desta forma, conseguimos suprir a necessidade de ambas as partes: a de empresas que buscam por talentos capacitados, e a de mulheres que buscam mais igualdade e oportunidades na tecnologia.
Apesar dos avanços, ainda existe uma pedra no caminho bem difícil de ser retirada: o baixo volume de lideranças femininas em tecnologia no Brasil e no Mundo…
Liderança feminina em tecnologia
Dados do ano passado, divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), apontam que apenas 37% dos profissionais de tecnologia brasileiros são mulheres e o cenário é ainda mais agravante quando se trata de cargos de alto nível, onde a porcentagem cai para 35%.
Não é atoa que programas de incentivo à liderança feminina em tecnologia estejam surgindo com mais frequência e, acima de tudo, gerando bons resultados. Garantir empregos, uma formação técnica de qualidade, diversas capacitações e, principalmente, mostrar a estas mulheres que há lugar para todas na tecnologia é a chave para que observemos, em um futuro próximo, mais mulheres em posições mais elevadas no mercado.
Uma balança desequilibrada
Além do surgimento de incentivos à presença de mulheres na TI, diversas empresas estão investindo constantemente em políticas de diversidade e inclusão dentro dos seus espaços corporativos a fim de aumentar tanto a presença das mulheres no mercado tech, como as suas lideranças nas organizações.
Mas, quando compreendemos que a desigualdade de gênero é uma questão estrutural, passamos a perceber que, nem sempre, ocupar os espaços é o suficiente para garantir as mesmas oportunidades. Isso porque, apesar do aumento de lideranças femininas, a experiência e rotina de trabalho das mulheres continua sendo negativa em diversos momentos.
Tais problemáticas são apontadas pelo relatório Women in the Workplace, o maior estudo a respeito de mulheres americanas no mercado de trabalho, elaborado pelas organizações LeanIn.Org e McKinsey & Company com a finalidade de auxiliar empresas a implementarem a diversidade de gênero em seus ambientes de trabalho.
De acordo com o estudo, em empresas onde a diversidade e inclusão ainda não é consolidada, muitas profissionais lidam diariamente com a sobrecarga de trabalho, o questionamento e descrença a respeito de suas capacidades e habilidades, entre outras situações que provocam uma sensação de esgotamento. Não é atoa que o número de casos de burnout são muito mais frequentes em mulheres do que em homens, principalmente após a pandemia de Covid-19.
Ao assumir uma postura forte de liderança, a grande maioria dos talentos femininos se esforça para promover ainda mais a inclusão social nos ambientes de trabalho e oferecer todo apoio possível aos seus times. Uma postura admirável, mas que, em grande parte das vezes, não é reconhecida e apoiada pelos demais gestores.
O cenário piora quando se trata de mulheres negras, transexuais ou pertencentes às demais esferas da comunidade LGBTQIAP+, ou portadoras de alguma deficiência. Segundo o Women in the Workplace, as figuras femininas que pertencem a outras minorias sociais estão ainda mais propensas a sofrerem micro agressões durante o dia a dia no trabalho.
Tudo isso, mostra que apenas incentivos à diversidade e inclusão não bastam quando estes não são colocados em prática na rotina da empresa. Mulheres têm ocupado cada vez mais os seus lugares em um setor do mercado no qual ainda é dominado pelo público masculino, e ainda há muito o que conquistar. No entanto, enquanto observamos este crescimento gradativo, podemos, sim, nos encher de esperança de que venceremos as desigualdades estruturais do mercado de trabalho.