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Evitando silos de conhecimento em times de engenharia em crescimento
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Evitando silos de conhecimento em times de engenharia em crescimento

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Quando um time de engenharia cresce de cinco para quinze pessoas, os canais informais de comunicação que antes funcionavam perfeitamente começam a se quebrar. Um pull request que antes recebia três comentários bem aprofundados agora ganha apenas uma aprovação rápida de alguém que não tem contexto suficiente. Perguntas que antes eram respondidas por qualquer pessoa do time agora passam a ser direcionadas sempre para uma única pessoa. Esse é o primeiro sinal de que o conhecimento está começando a se concentrar, criando riscos para times de engenharia em crescimento.

O problema não é a especialização em si. É ótimo que alguém do time entenda com profundidade o serviço de processamento de pagamentos.

O problema é quando essa pessoa é a única.

Isso cria pontos únicos de falha que vão muito além do óbvio risco de “e se ela sair de férias?”. Isso desacelera o desenvolvimento, torna o onboarding de novas contratações um processo doloroso e reduz o padrão de qualidade de grandes partes da base de código.

O custo real dos silos de conhecimento

Quando o conhecimento crítico fica preso na cabeça de uma ou duas pessoas, o resto do time começa a trabalhar ao redor delas. Isso cria gargalos que muitas vezes são difíceis de enxergar em um plano de projeto, mas são sentidos todos os dias no ciclo de desenvolvimento.

Gargalos e pontos únicos de falha

Você consegue identificar esse problema no fluxo de trabalho do dia a dia.

– Existe uma parte específica do sistema em que os PRs sempre levam dias a mais para serem revisados?

– Existe um desenvolvedor cujo nome aparece em 90% dos commits de um serviço crítico? Quando essa pessoa fica doente ou tira uma semana de folga, todo o trabalho relacionado simplesmente para.

Isso não é apenas um problema de alocação de recursos, é uma falha de design do sistema na arquitetura de conhecimento do time. O time perde a capacidade de responder a incidentes ou de entregar funcionalidades naquela área, tornando o planejamento e as previsões pouco confiáveis.

Por que o aprendizado de todo mundo desacelera

Em um ambiente com silos, desenvolvedores sem determinado conhecimento tendem a ficar no seu próprio território. Eles evitam pegar tarefas em partes desconhecidas do código porque sabem que o processo de review será lento e doloroso, bloqueado pela única pessoa que tem todo o contexto.

Com o tempo, isso faz a galera evitar ainda mais essas áreas. Ninguém se sente à vontade pra mexer ou sugerir melhorias em um código que “não é seu”. O aprendizado do time começa a travar, mesmo com gente nova entrando.

Onboarding fica mais lento e a agilidade sofre

Novas contratações têm muito mais dificuldade para ganhar velocidade quando todo o contexto crítico vive na cabeça de poucas pessoas. Elas não conseguem simplesmente ler o código ou a documentação para entender por que um sistema foi construído de determinada forma. Precisam encontrar a pessoa certa e torcer para que ela tenha tempo de explicar. Isso torna o time menos ágil. Fica difícil mobilizar várias pessoas em um projeto crítico ou realocar desenvolvedores para novas prioridades, porque o custo de transferência de conhecimento é alto demais.

A distribuição de conhecimento precisa ser um processo ativo

Muitas vezes assumimos que o conhecimento se espalha naturalmente, apenas por as pessoas trabalharem próximas umas das outras. Mas, à medida que os times crescem e as bases de código ficam mais complexas, acontece o oposto. O conhecimento se concentra em uma pessoa. É preciso criar práticas explícitas para fazer esse conhecimento circular pelo time, caso contrário, você acaba com poucos especialistas sobrecarregados e muitas dependências.

Por que documentação sozinha nunca é suficiente

Escrever documentação é importante, mas raramente é suficiente. Documentos ficam desatualizados rapidamente e, muitas vezes, não explicam o “porquê” por trás das decisões técnicas. O conhecimento mais valioso é o contexto compartilhado durante uma revisão de design ou uma sessão de debug. Um wiki pode explicar como um serviço funciona, mas não conta sobre as três abordagens que falharam antes de chegar à solução atual.

Confiar apenas em documentação costuma criar uma falsa sensação de segurança, enquanto o conhecimento tribal fica cada vez mais enraizado.

De “quem sabe o quê” para “como aprendemos juntos”

O objetivo é mudar o modelo de funcionamento do time. Em vez de depender de um índice humano de especialistas, você constrói um sistema em que aprender é uma parte contínua e esperada do trabalho. A pergunta deixa de ser “quem eu chamo para falar sobre o serviço de autenticação?” e passa a ser “qual é o processo para eu aprender o que preciso saber sobre o serviço de autenticação?”. Isso torna todo o time mais resiliente e capaz.

Estratégias para construir uma cultura de conhecimento resiliente

Quebrar silos exige esforço intencional e consistente. Não existe uma solução única, mas sim um conjunto de práticas que se reforçam mutuamente. O foco deve ser criar oportunidades para que o contexto seja compartilhado como parte natural do fluxo de desenvolvimento.

Distribuindo conhecimento com pairing e rotações

A forma mais eficaz de transferir contexto profundo é fazer as pessoas trabalharem juntas em problemas reais.

Pair programming estruturado

Não se trata apenas de escrever código em dupla. É sobre parear um especialista com alguém menos experiente em uma feature ou bug específico dentro do domínio do especialista. O objetivo explícito é a transferência de conhecimento, não apenas fechar a tarefa mais rápido. A perda de velocidade no curto prazo é um investimento válido na resiliência do time no longo prazo. Um erro comum aqui é tornar o pairing opcional ou sem estrutura; ele precisa ser uma atividade agendada e orientada por objetivos.

Rotações de curto prazo

Rotações completas do time costumam ser muito disruptivas. Uma abordagem mais prática é rotacionar responsabilidades. Por exemplo, ter um desenvolvedor “on-call” rotativo para um serviço específico. Isso força uma pessoa diferente a cada semana a aprender os aspectos operacionais de um sistema em que normalmente não trabalha. Outra opção é uma rotação de “dono dos bugs”, em que alguém fica responsável por triar e corrigir bugs de um componente específico durante uma sprint.

Criando espaços para o time trocar conhecimento

É possível incentivar a troca de conhecimento sem virar algo forçado ou cheio de processo.

Tech talks e brown bags

Funcionam para dar uma visão geral, mas o ponto forte é a parte de perguntas. Quando alguém apresenta um deep dive de um sistema que conhece bem, as perguntas quase sempre mostram o que não estava claro ou documentado.

Canais dedicados

Crie canais no Slack para domínios técnicos específicos (por exemplo, #perf-geeks, #frontend-guild, #security-champions). Esses espaços se tornam locais onde especialistas compartilham artigos e respondem perguntas, tornando seu conhecimento acessível pra todo mundo.

Architectural Decision Records (ADRs)

Um ADR não é apenas um documento estático. Seu valor vem do processo de criação. Registrar uma decisão técnica obriga você a articular os trade-offs e as alternativas consideradas. O PR de um novo ADR é uma ótima oportunidade de aprendizado para todo o time debater a abordagem e entender o “porquê” por trás de uma decisão.

Programas de mentoria dentro dos times de engenharia

Quando a mentoria é intencional, o conhecimento começa a circular melhor. Em vez de só apontar alguém para ajudar no começo, engenheiros mais experientes acompanham contribuições reais, oferecendo review, feedback de design e contexto que não está documentado.

Capacitando desenvolvedores a “ensinar de volta”

Uma das melhores formas de consolidar o aprendizado é ensinar o conteúdo para outra pessoa. Incentive desenvolvedores que acabaram de aprender um novo sistema a conduzir uma brown bag sobre ele ou a escrever o guia de “primeiros passos” daquele componente. Isso não apenas reforça o conhecimento de quem ensina, mas também cria materiais de aprendizado perfeitamente ajustados à perspectiva de um iniciante, algo que especialistas geralmente têm dificuldade em fazer.

Fazendo essas práticas se sustentarem

Introduzir essas práticas é uma coisa, torná-las uma parte duradoura da cultura do time é outra. Isso exige apoio da liderança e disposição para adaptar a abordagem ao longo do tempo.

O papel da liderança em priorizar esse trabalho

Se a liderança mede apenas a velocidade de entrega de features, todo o tempo gasto com pairing, documentação ou mentoria será visto como custo.

Gerentes de engenharia e tech leads precisam defender ativamente essas atividades.

Isso significa reservar tempo para elas no planejamento das sprints e reconhecer e recompensar quem compartilha conhecimento, não apenas quem entrega código.

Como medir se isso está funcionando

Medir compartilhamento de conhecimento não é simples, mas dá pra observar alguns sinais ao longo do tempo.

  • Bus factor
    Quantas pessoas do time conseguem lidar com segurança com um incidente P1 em cada serviço crítico? Se a resposta for uma só, tem um problema. Vale acompanhar esse número ao longo do tempo.

  • Quem revisa os PRs
    Olhe para a distribuição de revisores e aprovadores no código. Os PRs do serviço de autenticação passam sempre pela mesma pessoa? Em times mais saudáveis, esse trabalho fica mais distribuído.

  • Tempo de onboarding
    Quanto tempo um engenheiro novo leva para entregar uma primeira feature relevante sem ajuda direta? Quando o conhecimento está mais acessível, esse tempo tende a cair.

Iterar e ajustar

Não existe um conjunto único de práticas que funcione para todo mundo. O caminho é testar, observar e ajustar. Talvez pair programming seja pesado demais para o seu time, mas revisões colaborativas de PRs mais complexos funcionem bem. O importante é encarar isso como um problema real e continuar experimentando soluções que se encaixem no fluxo de trabalho e na cultura do time.

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