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Métricas de Manutenibilidade em Engenharia de Software
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Métricas de Manutenibilidade em Engenharia de Software

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Quem nunca passou por isso? Você entra em um time novo, clona o repositório e dá de cara com um arquivo de 2.000 linhas. Ou pedem para você adicionar uma feature “simples” em um código tão bagunçado que, ao mudar uma coisinha, você quebra outras três. Esse é o imposto lento e silencioso do código que não dá pra manter. É o que transforma o prazer de entregar features em um fardo. Mas como lutar contra algo que você não vê? O primeiro passo é medir. É aí que as métricas de manutenibilidade em engenharia de software entram em cena, elas não servem para julgar seu código, mas para te dar um mapa para sair da selva da dívida técnica.

Pense nessas métricas menos como um boletim escolar e mais como um painel de saúde do seu código. Elas ajudam a identificar problemas cedo, tomar decisões informadas sobre refatoração e, no fim das contas, construir software que é mais fácil e barato de evoluir com o tempo.

Por que manutenibilidade é sua arma secreta

Sejamos honestos: “manutenibilidade” pode parecer um termo vago e acadêmico. Mas seu impacto é bem concreto. Quando você foca nisso, coisas boas acontecem:

  • A dívida técnica diminui. Em vez de acumular dívida a cada commit, você está ativamente pagando ela. Você está facilitando a vida do seu “eu” do futuro.
  • O desenvolvimento de features fica mais rápido. Código limpo e bem estruturado é previsível. Você consegue adicionar novas funcionalidades sem jogar uma partida de Jenga com o sistema existente.
  • Os custos operacionais caem. Código simples tem menos edge cases esquisitos e bugs escondidos. Isso significa menos tempo gasto em sessões frenéticas de debug tarde da noite.
  • Seu time fica mais feliz e produtivo. Nada queima mais os desenvolvedores do que lutar contra um código hostil. É um prazer trabalhar em um sistema fácil de manter, o que ajuda tanto no astral quanto na retenção do time.

É uma vantagem estratégica, simples assim. Você está construindo uma base que te permite andar mais rápido, não uma que desmorona sob o próprio peso.

As principais métricas de manutenibilidade

Ok, mas como a gente mede isso na prática? Existem dezenas de métricas, mas um punhado delas entrega a maior parte do valor. Vamos analisar as principais.

Complexidade Ciclomática

Se você fosse acompanhar uma métrica só, provavelmente seria esta. A Complexidade Ciclomática basicamente mede o número de caminhos distintos dentro de uma função ou método. Cada bloco if, for, while, case e catch aumenta a complexidade.

Pense nisso como andar por uma cidade. Uma função com complexidade 1 é uma rua reta — fácil de seguir. Uma função com complexidade 15 é o centro da cidade com dezenas de cruzamentos, algumas ruas de mão única e uma rotatória. É bem mais fácil se perder.

Como interpretar:

    • 1-10: Geralmente considerado simples e gerenciável. É um bom alvo.
    • 11-20: Começando a ficar complexo. Pode ser um bom candidato para refatoração.

20+: Houston, temos um problema. Este código provavelmente é difícil de entender e ainda mais difícil de testar direito. O risco de bugs é alto.

A maioria das ferramentas de análise estática calcula isso para você automaticamente. É uma forma incrivelmente poderosa de achar pontos críticos no seu código que precisam de atenção.

Coesão e Acoplamento: Fundamentos da Modularidade

Esses dois conceitos são complementares e descrevem como módulos e classes se organizam e interagem.

Coesão avalia se os elementos dentro de um módulo realmente pertencem ao mesmo contexto. Alta coesão é positiva: significa que uma classe ou módulo tem uma única responsabilidade clara. Já um módulo que mistura lógica de autenticação com processamento de pagamentos é um exemplo de baixa coesão.

Acoplamento mede o grau de dependência entre módulos. Baixo acoplamento é desejável porque cada módulo consegue evoluir ou ser substituído sem causar impacto excessivo nos demais. Acoplamento alto significa que mudanças em um ponto podem gerar uma cadeia de ajustes em várias partes do sistema.

Existem métricas formais para isso, como LCOM (Lack of Cohesion in Methods) e CBO (Coupling Between Objects). Você não precisa memorizar as fórmulas, mas sim o princípio: buscar alta coesão e baixo acoplamento.

Aplicar esse princípio torna o código muito mais fácil de manter. Permite alterar um módulo com confiança, sem risco de um efeito cascata em toda a aplicação.

A verdade inconveniente sobre Linhas de Código (LOC)

Essa é polêmica, e com razão. Usar LOC para medir produtividade é uma péssima ideia. Mas como um indicador de manutenibilidade? Aí tem seu valor.

Uma função de 500 linhas quase certamente está fazendo coisas demais. Uma classe de 5.000 linhas é um monstro. Embora um número baixo de LOC não garanta um bom código (dá pra escrever um absurdo ilegível em uma linha), um número muito alto é um grande sinal de alerta.

Use como um detector de fumaça. Se você vir um arquivo ou função com um número de linhas fora do comum, vale a pena investigar. Há uma boa chance de ser um monstro com baixa coesão e alta complexidade escondido ali.

Duplicação de Código: O Imposto do Copia e Cola

Todo mundo já fez. Você precisa de uma lógica que é quase igual a algo que já existe, então você copia, cola e ajusta. O problema é que você acabou de criar um pesadelo de manutenção.

Quando você acha um bug no código original, precisa lembrar de consertar em todas as versões copiadas. Quando precisa atualizar a lógica, tem que fazer isso em vários lugares. É a receita para inconsistências e bugs.

Ferramentas conseguem detectar código duplicado facilmente e geralmente o reportam como uma porcentagem do seu código total. Baixar esse número extraindo lógicas compartilhadas para funções ou módulos reutilizáveis é uma das formas mais rápidas de melhorar a manutenibilidade.

Como pensar em Cobertura de Testes como uma das principais métricas de manutenibilidade em engenharia de software

Cobertura de testes não diz se seu código é “bom”, mas diz algo tão importante quanto: O quão seguro você se sente para alterá-lo?

Um módulo com 90% de cobertura de testes é um que você pode refatorar com confiança. Você pode mover as coisas de lugar, limpar a lógica e confiar que a suíte de testes vai te pegar se você quebrar algo. Um módulo com 10% de cobertura? Você está voando às cegas. Cada mudança é um risco.

Aqui vai um resumo rápido:

    • Cobertura de Linha (Line Coverage): A suíte de testes executou esta linha de código?

Cobertura de Ramo (Branch Coverage): Para um if/else, os testes cobriram tanto o caminho do “if” quanto o do “else”? Esta costuma ser uma métrica mais valiosa.

Não corra atrás de 100% de cobertura só por correr. Isso geralmente leva a testes de baixo valor. Em vez disso, mire em uma cobertura alta na sua lógica de negócio crítica, as partes da sua aplicação que simplesmente não podem quebrar. Uma alta cobertura de testes é a rede de segurança que permite refatoração agressiva e manutenção a longo prazo.

Juntando tudo: das métricas à ação

Conhecer as métricas é uma coisa; usá-las de forma eficaz é outra. Não dá para simplesmente jogar um dashboard na frente do seu time e esperar que as coisas mudem.

Comece com uma linha de base e depois defina metas

O primeiro passo é simplesmente medir. Rode uma ferramenta no seu código atual e veja como você está. Não entre em pânico se os números assustarem. Essa é sua linha de base.

A partir daí, defina metas realistas e incrementais. Em vez de “Corrigir todos os problemas de complexidade”, tente “Para todo código novo, as funções devem ter Complexidade Ciclomática abaixo de 12”. Ou, “Neste trimestre, vamos reduzir a duplicação de código geral em 3%”.

O objetivo não é atingir uma pontuação perfeita; é estancar o sangramento e melhorar gradualmente com o tempo. Progresso, não perfeição.

Crie uma cultura de manutenibilidade

Métricas são só dados. A mudança real acontece na cultura do seu time.

Use essas métricas para iniciar conversas durante os code reviews, não como armas. Em vez de dizer “Sua função está complexa demais”, tente “Ei, a pontuação de complexidade aqui deu 18. Tive um pouco de dificuldade para seguir a lógica. Acha que daria para quebrar em algumas funções auxiliares menores?”.

Quando a manutenibilidade se torna um valor compartilhado — algo com que todos no time se importam — o código melhora naturalmente. Trata-se de um senso de dono coletivo sobre a saúde do código.

Cuidado com estas armadilhas

Como qualquer métrica, existem formas de usá-las mal.

    • A armadilha da métrica única: Se você focar só em LOC, as pessoas vão escrever código denso e ilegível. Se focar só em cobertura de testes, elas vão escrever testes inúteis. Olhe para as métricas como um painel holístico, não como um número isolado.

Burlar o sistema: Um desenvolvedor sempre pode achar um jeito de fazer um número parecer bom sem de fato melhorar o código. Isso é sinal de um problema cultural, as métricas estão sendo usadas para punir, não para ajudar.

Ignorar o contexto: Às vezes, o código é complexo e ponto. Um componente algorítmico central pode ter uma Complexidade Ciclomática alta, e tudo bem. Não aplique regras cegamente sem usar seu julgamento de engenharia.

Lembre-se: o objetivo não é tirar uma nota boa. O objetivo é escrever software melhor e mais fácil de manter. As métricas são só uma ferramenta para te ajudar a chegar lá.

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