Todo mundo fala sobre como o processo de code review é importante para manter a qualidade. Mas o que pouca gente discute com profundidade é como dar bom feedback em um pull request. E mais: como receber esse feedback sem travar, sem levar pro pessoal, e sem transformar cada PR em um debate eterno.
Se você lida com revisão de código no dia a dia, esse texto é pra você.
Aqui, a gente não vai ficar no óbvio. Nada de “escreva com empatia” e “evite ser agressivo”. Você já sabe disso. A ideia aqui é mostrar como transformar pull request em um momento de aprendizado real, onde o time evolui junto e a entrega melhora de forma consistente.
Pra quem revisa: feedback bom não é o mais inteligente, é o mais útil
O papel de quem revisa não é provar que sabe mais. É ajudar a pessoa que escreveu o código a pensar melhor sobre o que está sendo entregue.
Isso muda tudo. Ao invés de “isso aqui tá errado”, tente “qual foi a ideia por trás dessa abordagem?”. Em vez de apontar o problema direto, comece por uma pergunta honesta. Pode ser que o contexto seja diferente do que você imaginou.
Bons revisores têm uma coisa em comum: são curiosos. Eles tentam entender por que o código foi escrito daquele jeito antes de sugerir uma mudança. Eles sabem que feedback não é sobre mostrar superioridade, é sobre colaborar para que a solução final seja melhor.
E sim, quando precisar discordar, seja direto. Mas explique o porquê. “Acho que esse regex pode quebrar com tal edge case. Prefere usar uma função de parsing aqui?”. Isso gera discussão produtiva, não atrito.
Vale dizer: um estudo de 2024 analisou mais de 8 mil PRs em 46 projetos open source e mostrou que sugestões de melhoria são o tipo de feedback mais frequente — mais até do que correção de bugs ou problemas de estilo. E mais: esse tipo de feedback aumenta a chance de o PR ser aprovado, mesmo que leve mais tempo pra ser resolvido.
Pra quem abre PR: facilite a vida de quem vai revisar
Tem PR que já chega pedindo rejeição. E o motivo não é o código, mas o contexto (ou a falta dele).
Antes de abrir um PR, se pergunta: quem vai revisar tem as informações que eu tenho na cabeça? Geralmente, a resposta é não.
Uma boa descrição no PR muda o jogo. Fale o que foi feito, o porquê e, se puder, qual era a alternativa. Se tem uma regra de negócio escondida ali, explica. Se o diff está grande porque você precisou renomear arquivos, fala isso também.
PR sem contexto vira chute. E ninguém gosta de revisar no escuro.
Outro ponto: evite enviar PR gigante. Se puder quebrar em partes menores, melhor. Não é só pela revisão. Isso ajuda a manter o histórico limpo, entender o impacto de cada parte e reverter uma mudança específica, se for preciso.
Feedback entre níveis: o que muda de um dev júnior pra um sênior
Nem todo feedback deve ser dado do mesmo jeito. A forma como você aborda um PR de uma pessoa júnior é diferente de como você conversa com uma pessoa sênior. E isso não é sobre hierarquia, é sobre contexto e momento de carreira.
Com pessoas mais juniores, o foco é orientar e ajudar a formar pensamento crítico. Vale explicar padrões, sugerir alternativas com exemplo e reforçar boas práticas. Evite corrigir tudo direto. Pergunte antes. Dê espaço pra pessoa pensar.
Com plenos, é importante equilibrar orientação com autonomia. Aqui, você pode cobrar um pouco mais de contexto nas decisões e incentivar a documentar melhor as escolhas.
Com pessoas mais experientes, o feedback tende a ser mais técnico e direto. Mas isso não é motivo pra cortar a conversa. Questione escolhas, proponha alternativas, valide padrões. O foco é manter consistência e fomentar discussão construtiva entre pares.
Resumindo: ajuste o tom, não o cuidado.
Aliás, outra pesquisa recente mostrou que PRs enviados por devs novatos recebem menos reações e comentários — o que pode afetar diretamente o aprendizado e engajamento dessas pessoas no time.
Como criar uma cultura de PR saudável no time
Pull request não pode ser uma fonte de ansiedade. Quando bem usado, ele vira um espaço de aprendizado e alinhamento técnico.
Pra isso acontecer, algumas coisas ajudam muito:
- Alinhe as expectativas sobre o que deve ou não estar em um PR
- Crie um checklist simples de revisão que todo mundo possa usar
- Estimule o uso de “suggestion” em vez de “required changes” quando não for algo crítico
- Incentive o reconhecimento de boas soluções, não só a correção de erros
- Dê espaço para o time debater o processo de review nas retrospectivas
Um estudo que analisou o uso de bots em PRs mostrou que eles aumentam a velocidade de merge, mas reduzem a comunicação entre devs — o que pode impactar negativamente a troca de conhecimento.
Ou seja, eficiência é importante, mas não pode vir às custas de colaboração. A cultura de feedback precisa ser cuidada ativamente.
Feedback bom acelera o time. Feedback ruim trava.
No fim das contas, o objetivo do PR é fazer o time entregar melhor, com mais qualidade e menos retrabalho. Feedback bem dado (e bem recebido) acelera esse ciclo.
Não tem mágica. Mas tem cuidado, clareza e boa vontade. E isso, quando vira cultura, muda a forma como a equipe colabora e evolui.
Se você quer construir um time que aprende junto, o jeito que vocês lidam com PRs diz muito sobre pra onde você está indo.