JavaScript dá liberdade, mas com liberdade vem risco. Sem um processo bem definido de code review em Javascript, é fácil deixar passar bugs discretos, padrões inconsistentes e até vulnerabilidades de segurança.
Se você trabalha em um time que mantém um projeto JavaScript, seja front-end, back-end com Node.js ou fullstack, a revisão de código precisa ser parte central do fluxo. Não só pra garantir que o código funcione, mas pra manter a qualidade, a performance e a segurança do sistema ao longo do tempo.
Neste guia, vamos direto ao que importa:
Por que fazer review, o que olhar em cada PR e as melhores práticas pra transformar o processo numa ferramenta real de melhoria contínua.
O que é um Code Review em JavaScript?
De forma direta: é quando outro desenvolvedor (que não foi quem escreveu a mudança) revisa o código antes do merge. O foco não é só achar problema, mas validar lógica, garantir que o código siga os padrões da equipe e compartilhar conhecimento.
Pense como um diálogo técnico assíncrono que acontece por meio de comentários, sugestões e perguntas.
Por que investir tempo nisso?
- Pegar bugs antes de virar incidente de produção
Revisão é o último filtro antes do código chegar na main. Encontrar um bug nessa fase custa muito menos do que ter que corrigir depois de um deploy.
- Garantir qualidade e consistência do codebase
Um código com o mínimo de padrões (estilo, arquitetura, naming) é mais fácil de ler, manter e refatorar no futuro. Revisão é onde o time reforça esses padrões.
- Disseminar conhecimento entre o time
Cada review é uma oportunidade pra quem tá de fora daquela feature entender como ela funciona. Isso reduz silos e melhora o entendimento coletivo do sistema.
- Acelerar o onboarding de novos devs
Quem acabou de entrar no time aprende muito mais vendo PRs reais, com contexto de negócio e feedback direto, do que lendo um handbook genérico. Revisar e ser revisado faz parte do ramp-up.
Fazer code review não é só um passo do fluxo de Git.
É uma das melhores formas de garantir que seu código JavaScript não só funcione… mas continue saudável conforme o time e o sistema crescem.
Checklist Code Review JavaScript
1. Contexto da PR
-
Resuma o que muda, por quê e como testar.
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Commits pequenos, descritivos (
feat: cache header
) — nada de “update”.
2. Correção funcional
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A entrega cobre todos os critérios do ticket.
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Teste edge cases e fluxos de erro.
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Verifique efeitos colaterais na UI, state global ou APIs.
3. Erros & observabilidade
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Exceções tratadas (
try/catch
,.catch()
); nada explode silenciosamente. -
Logs estruturados (JSON + nível certo) em vez de
console.log
perdido. -
Endpoints novos expõem métricas ou tracing.
4. Estilo & consistência
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ESLint + Prettier zerados no CI.
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camelCase para variáveis/funções, PascalCase para classes/componentes.
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Estrutura de pastas segue o padrão do repo — sem “/misc” improvisado.
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Expressões longas quebradas para leitura humana.
5. Performance
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Evite loops O(n²) e cálculos pesados na main thread.
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Componentes React: use
memo
,useCallback
,useMemo
quando re-renderiza demais. -
Remova event listeners ao desmontar; fuja de memory leaks.
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Payload grande? Use lazy loading, streaming ou web workers.
6. Segurança
-
Sanitize dados externos antes de jogá-los no DOM (XSS).
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Queries parametrizadas ou ORM contra SQL/NoSQL injection.
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CSP/headers corretos se mexer em SSR ou APIs.
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Tokens/keys jamais expostos no front-end ou logs.
7. Legibilidade & manutenibilidade
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Nomes claros (adeus
data1
,tmp
). -
Funções curtas, responsabilidade única; side-effects isolados.
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Tipos explícitos (TypeScript/JSDoc) nas bordas públicas.
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Comentários explicam por que, não repetem o óbvio.
8. Testes & cobertura
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Tests unitários/integrados para a lógica nova.
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Cobertura não caiu sem boa justificativa; snapshots atualizados conscientemente.
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Alterou GraphQL/REST? Inclua teste de contrato.
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Accessibility e2e (axe/jest-axe) em componentes visuais.
9. Dependências & build
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npm audit
/Snyk limpos. -
Licença das libs novas compatível (MIT ≠ AGPL).
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Bundle size sob controle (size-limit, webpack-bundle-analyzer).
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Tree-shaking habilitado (
sideEffects: false
).
10. Acessibilidade & i18n
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Navegação por teclado e foco visível em elementos interativos.
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aria-*
correto; labels não vazios. -
Textos novos extraídos para arquivos de tradução, se o projeto é multilíngue.
11. Infra & pipeline
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Dockerfile / workflow CI continuam rodando lint, tests e scans.
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Variáveis de ambiente novas listadas no
.env.example
. -
Feature flag se a mudança puder ser revertida sem rollback de código.
12. Documentação & comunicação
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README, docs ou Storybook atualizados se mudou API pública.
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CHANGELOG ou nota na PR explicando impacto e passos de migração.
Melhores práticas para code review em JavaScript
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Mantenha o PR pequeno e focado. Que cada pull request resolva um único problema ou entregue uma única feature. Quanto menos linhas de diff, mais fácil enxergar bugs e sugerir melhorias.
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Entregue feedback acionável. Escreva comentários como perguntas ou sugestões, sempre explicando o motivo técnico. Foque no trecho de código, nunca na pessoa.
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Respeite o ritmo. Não deixe PR parado. Combine um SLA (ex.: 24 h) e se esforce para cumprir; o autor evita troca de contexto e a main avança sem gargalos.
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Promova diálogo aberto. Perguntar, explicar e defender escolhas faz parte do processo. A cultura deve deixar claro que questionar é bem-vindo e não um ataque.
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Defina o escopo da revisão. Lógica, estilo, performance, segurança — ou tudo isso? Use um checklist para guiar quem revisa e alinhar expectativas.
Conclusão
Fazer code review em JavaScript vai muito além de olhar se o código roda. É sobre garantir que o que vai pra main seja funcional, seguro, performático e fácil de manter. Quanto maior o projeto e o time, maior o impacto de cada revisão bem feita.
Seguir um checklist técnico, dar feedback claro e manter um processo de review constante não só melhora a qualidade do código, mas também acelera o aprendizado coletivo e reduz o custo de bugs no futuro.
No fim, code review bem feito não é sobre apontar erros. É sobre evoluir o time e o produto a cada merge.