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Code Smells na Prática: Como Detectar e Refatorar
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Code Smells na Prática: Como Detectar e Refatorar

Índice:

Já aconteceu de você olhar para um trecho de código e… ter uma sensação ruim? Ele funciona, passa nos testes, mas alguma coisa parece errada. É um pouco complicado demais, meio desajeitado ou simplesmente difícil de ler.

Essa sensação, meu amigo, é sua intuição de dev apontando para um code smell. Não é um bug, mas é um sinal de que algo pode estar errado por baixo dos panos.

Pense nos code smells como sintomas de problemas mais profundos, muitas vezes relacionados a débito técnico. São as pequenas concessões de arquitetura e os pedaços de desorganização que, se não forem corrigidos, se transformam em problemas enormes e impossíveis de manter. Ignorá-los é como ignorar um barulho estranho no motor do seu carro. Claro, você ainda consegue dirigir, mas provavelmente está a caminho de uma quebra.

Um Guia dos Code Smells Mais Comuns

Depois que você aprende a reconhecer code smells, começa a vê-los por toda parte. E isso é bom! É o primeiro passo para corrigi-los. Abaixo estão alguns dos culpados mais comuns que você encontrará por aí, com exemplos de como consertá-los.

Código Duplicado

É o clássico trabalho de copiar, colar e modificar. Você vê um bloco de lógica que precisa e simplesmente o duplica. O problema? Se precisar corrigir um bug ou alterar a lógica, você terá que se lembrar de fazer isso em todos os lugares onde o colou. Você não vai. Alguém vai esquecer.

O sintoma:

A correção (Extract Method):

Extraia a lógica duplicada para uma função própria. Simples, limpo e agora você tem uma única fonte da verdade.

Métodos ou Funções Longas

Uma função que faz dez coisas diferentes é difícil de entender, de testar e de reutilizar. Se sua função precisa de comentários para dividi-la em seções, é um grande sinal de alerta de que ela deveria ser dividida em várias funções menores.

O sintoma: Uma função de 50 linhas chamada handleUserSignup que valida a entrada de dados, cria um registro de usuário, salva no banco de dados, envia um e-mail de boas-vindas e registra o evento em log.

A correção (Extract Method, de novo): Quebre a função. Cada nova função deve fazer uma única coisa, e fazê-la bem.

  • validateSignupForm(data)
  • createUserFrom(data)
  • saveUser(user)
  • sendWelcomeEmail(user)
  • logSignupEvent(user)

Agora sua função principal handleUserSignup apenas chama essas funções menores em ordem. Fica parecendo uma receita, que é exatamente o que você quer.

Classes Grandes

Parecido com métodos longos, uma “God Class” (ou classe Deus) tenta fazer tudo. Uma classe User que gerencia autenticação, dados de perfil, informações de faturamento e configurações de usuário está fazendo coisas demais. Isso viola o Princípio da Responsabilidade Única (Single Responsibility Principle) e torna a classe uma bagunça frágil e emaranhada.

O sintoma: Uma classe com dezenas de métodos cobrindo várias áreas distintas de funcionalidade.

A correção (Extract Class): Desmonte o monolito em classes menores e mais focadas. A classe User pode manter os dados principais (ID, nome), mas a lógica é delegada:

  • Authenticator lida com login e logout.
  • BillingManager cuida de assinaturas e pagamentos.
  • ProfileService gerencia as atualizações de perfil do usuário.

Grupos de Dados (Data Clumps)

Você vê o mesmo grupo de variáveis sendo passado junto em várias chamadas de método: (startDate, endDate) ou (userStreet, userCity, userZip). Isso é um sinal de que essas variáveis formam um “grupo” e provavelmente deveriam pertencer a seu próprio objeto ou classe.

O sintoma:

A correção (Introduce Parameter Object):

Feature Envy: Um Code Smell Traiçoeiro

Este é mais sutil. Acontece quando um método parece mais interessado nos dados de outra classe do que nos seus próprios. Ele está constantemente chamando getters de outro objeto para fazer algum cálculo. Isso é um sinal de que a lógica pode estar no lugar errado.

O sintoma: Imagine uma classe Order com um método para calcular o preço final.

A correção (Move Method): Essa lógica de desconto é toda sobre o cliente. O lugar dela é na classe Customer!

Como Detectar e Lidar com os Smells

Encontrar smells é parte habilidade, parte arte. Corrigi-los exige disciplina.

Métodos de Detecção

  • Sua intuição: Esta é sua principal ferramenta. Se o código parece confuso ou frágil, pare e pergunte por quê. Esse é o começo.
  • Code Reviews: Um novo par de olhos não tem preço. “Você consegue me dizer rapidamente o que esta função faz?” Se a resposta for uma longa pausa seguida por um “hmmm…”, você provavelmente encontrou um smell.
  • Ferramentas: São seus detetives automatizados. Ferramentas como Kodus, SonarQube, CodeClimate e linters (ESLint, RuboCop) podem ser configuradas para sinalizar smells comuns, como alta complexidade ciclomática (muitos branches), métodos longos e código duplicado. Integre-as à sua IDE e ao seu pipeline de CI/CD.

Estratégias para Refatorar do Jeito Certo

Depois de encontrar um smell, não mergulhe de cabeça e comece a mudar as coisas. É assim que você introduz bugs.

  1. Tenha uma rede de segurança: Antes de refatorar, garanta que você tem uma boa cobertura de testes para o código que vai alterar. Seus testes são as barreiras de proteção que provam que você não quebrou nada. Refatorar sem testes não é refatorar; é só… mudar as coisas e torcer pelo melhor.
  2. Trabalhe em pequenos passos: Não tente consertar uma God Class gigante de uma só vez. Extraia um método. Renomeie uma variável. Rode os testes. Commite. Mudanças pequenas e incrementais são mais seguras e fáceis de revisar.
  3. Priorize: Você não pode consertar tudo de uma vez. Comece pelo código que está causando mais dor — as partes do sistema que são alteradas com mais frequência ou que são a origem da maioria dos bugs.

Pensando a Longo Prazo: Prevenção

A melhor forma de lidar com code smells é evitar que eles apareçam. Não se trata de escrever código “perfeito” desde o primeiro dia, e sim de construir hábitos saudáveis de equipe.

  • Defina padrões de código claros: Entrem em acordo sobre um guia de estilo e regras de lint. Automatize o máximo possível. A consistência remove a sobrecarga cognitiva.
  • Promova uma cultura de reviews construtivos: Code reviews não devem ser para apontar culpados. Devem ser um processo colaborativo para melhorar o código e compartilhar conhecimento. Formule o feedback como perguntas: “Estou com dificuldade para seguir essa lógica, será que poderíamos quebrá-la em uma função auxiliar?”
  • Continue aprendendo: O ofício do desenvolvimento de software está sempre evoluindo. Leia livros como Refactoring, de Martin Fowler, e Clean Code, de Robert C. Martin. Discuta design patterns com sua equipe.

No fim das contas, prestar atenção aos code smells é uma questão de profissionalismo e respeito — respeito por seus colegas de equipe, pelo seu eu do futuro que terá que manter esse código e pelo produto que você está construindo. É a diferença entre uma codebase em que é um prazer trabalhar e uma que todo mundo tem medo de tocar.

Próximos Passos: Um Checklist Rápido

  • Escolha um smell pequeno. Encontre um método longo ou um trecho de código duplicado no seu projeto atual.
  • Escreva um teste. Garanta que o comportamento atual está coberto.
  • Dê um passo na refatoração. Extraia essa lógica para uma nova função com um bom nome.
  • Rode os testes. Passaram? Ótimo. Commite sua alteração.
  • Repita. Você acabou de melhorar um pouquinho a codebase. Agora, vá e faça de novo.
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