Compreender diversos modelos de organização para empresas é essencial. Isso porque existem vantagens associadas aos mais variados métodos. Eles podem atender desde quem busca aplicar uma nova ideia de organização até quem procura revisar a tecnologia social utilizada em sua empresa. E, em todos esses casos é quase inevitável se deparar com um case específico: o modelo Spotify Squads.
A estrutura desenvolvida pela empresa de streaming de música é a menina dos olhos de diversas startups. Contudo, se basear no conceito da empresa sueca demanda um estudo aprofundado. Além de compreender o caso do Spotify é necessário ter um vasto conhecimento da própria empresa para, então, tentar colocar algo em prática.
Como funciona o modelo Spotify Squads?
A metodologia adotada pela empresa de streaming está endemicamente relacionada aos conceitos do manifesto ágil. No caso da companhia, o modelo pensado sofreu fortes influências de métodos como o Scrum, especialmente na definição de grupos multidisciplinares e no conceito de autonomia.
O Modelo Spotify, entretanto, aprofundou alguns mecanismos encontrados em métodos de administração já existentes. A ideia central é a adoção dos chamados squads. Esses grupos são compostos por membros de diferentes especializações e funcionam como células individuais dentro da empresa. Isso significa que cada squad tem total autonomia no desenvolvimento de sua feature.
Para ficar mais simples, imagine que cada um destes grupos é a peça de uma casa de brinquedo montável. As paredes são produzidas e funcionam independentemente do teto, que também é independente da porta. Nessa analogia, as paredes podem ser o player do aplicativo web, enquanto o teto é sua biblioteca e a porta a interface de playlists.
Desta forma, o time envolvido no desenvolvimento de cada tarefa não depende de nenhum outro. Para que isso funcione, eles são formados por membros com diferentes skills, garantindo toda a interdependência necessária.
Apesar de possuírem autonomia, os squads, naturalmente, são guiados pela cultura e pelos objetivos da empresa. Sua existência não significa ausência de interação de setores dentro da organização. A comunicação e o foco na interação pessoal são fundamentos do conceito de agilidade. Por isso, existem mais estruturas dentro do Modelo Spotify que possibilitam a troca de experiência entre os colaboradores e os próprios squads.
O que são tribos, capítulos e guildas?
A autonomia dos times dentro da empresa tem como objetivo deixar o trabalho mais ágil e dinâmico, e não travá-lo. Para aumentar a dinamicidade das equipes, existem outras configurações dentro desse conceito de organização. Confira!
Tribos
Também chamadas de tribes, são compostas por squads que trabalham em features com objetivos similares. O objetivo é que a comunicação entre este grupo seja sempre facilitada, seja com reuniões ou proximidade dentro da própria empresa.
Pensando no próprio produto do spotify, podemos imaginar que cada funcionalidade da playlist é desenvolvido por uma squads. E todas essas squads juntas formam a tribo responsável pelo recurso playlist.
Capítulos
Os chapters são formados por membros de diversas squads. Contudo, esta formação não é arbitrária. Todos os membros de um capítulo possuem as mesmas skills e desenvolvem a mesma função dentro de seus respectivos squads — um capítulo pode ser formado por diversos designers por exemplo. Aqui também há outra figura de liderança, responsável por desenvolver colaboradores orientado por suas funções.
Guildas
Traduzidas do termo guilds, estes grupos se formam organicamente. As guildas são compostas por colaboradores de qualquer área e funcionam como uma espécie de grupo de estudos baseados em interesses comuns.
Práticas essenciais para o modelo Spotify Squads
Grande parte das empresas que buscam trabalhar com este modelo não sabem que existem algumas práticas essenciais para que esta metodologia gere ainda mais resultados para as equipes e para o sucesso do projeto. Como não queremos que este seja o seu caso, elencamos abaixo três procedimentos de Engenharia de Software que farão toda a diferença em suas squads, veja:
Inner Source
Diretamente relacionada ao Open Source, esta prática consiste em permitir que os desenvolvedores de uma squad da sua empresa trabalhem e colaborem com os códigos de outras para que os processos sejam ainda mais ágeis.
Neste caso, cada squad desenvolve seu repositório, de códigos ou componentes, por exemplo, e disponibiliza seu uso para os demais times ágeis. Quando alguma melhoria ou correção precisa ser implementada, todas as squads podem executá-las sem depender de uma pessoa específica para realizar esta tarefa.
Mas, lembre-se, é sempre importante manter os times atualizados acerca de qualquer alteração e isso deve ser feito através de uma comunicação clara, sem ruídos e, principalmente, de documentações detalhadas.
Isso faz com que os processos aconteçam de forma ainda mais ágil, além de contribuir para que os talentos tenham mais autonomia para tomar decisões e solucionar problemas, algo que aumenta o engajamento e o bom desempenho das equipes.
Release Train
Também chamado em português de “trem de lançamento” ou “trem de liberação”, a estratégia não é exclusiva do setor de tecnologia, mas funciona perfeitamente em projetos de desenvolvimento de software.
Esta estratégia consiste em colocar em prática tudo aquilo que foi implementado e construído pelas squads ao longo de uma sprint, ainda que tudo não esteja completamente finalizado. É um processo desenvolvido em conjunto por todos os profissionais responsáveis pelas implementações, testes, implantações e liberações de um projeto.
Os release trains permitem que as squads dediquem-se a realizar entregas contínuas e ajudam a evitar que no futuro, os profissionais tenham que lidar com grandes problemas com as aplicações.
Feature Toggle
As feature toggles são estratégias que visam habilitar e desabilitar recursos e funcionalidades de determinada aplicação em tempo real e sem que haja uma alteração nos códigos. Dessa forma, é possível fazer com que os release trains aconteçam e que mudanças sejam feitas aos usuários de uma forma segura e sem atrasos no projeto.
Afinal, devo aplicar o modelo Spotify Squads?
Antes de tudo, é preciso compreender este tipo de modelo como um conceito. Apesar de se mostrar funcional para um tipo de realidade, o Spotify Squads pode não ser adequado para sua empresa e produto. Diferente do Scrum ou do Kanban, por exemplo, que representam métodos de organização, o Spotify Squads não é um framework ou metodologia ágil generalista. Ele foi pensado e desenhado para um modelo de trabalho específico, baseado em um produto.
Para pensar em se inspirar pela metodologia adotada na empresa de streaming é necessário, primeiro, olhar para o seu próprio negócio. Analisar o capital humano, a estrutura física e o produto é essencial para cogitar um novo modelo para o seu negócio.
Então, respondendo a pergunta: reproduzir o Modelo Spotify pode funcionar? Sim! Nada garante que ele não possa ser efetivo em determinadas startups, mas mesmo assim com certeza serão necessárias algumas adaptações.
Contudo, é preciso se perguntar se este modelo irá funcionar com certeza. E, para essa indagação, a resposta é não. A organização da empresa depende da aplicação de métodos organizacionais que condizem com a própria realidade e, por isso, nem sempre será possível pegar toda a metodologia do Spotify e implementar no seu time. O ideal é utilizá-la apenas como base, e adaptar os processos de acordo com a sua realidade, o seu produto e a sua equipe.