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Como lidar com dívida técnica em um ambiente de crescimento acelerado
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Como lidar com dívida técnica em um ambiente de crescimento acelerado

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Quando você está escalando rápido, a pressão para entregar novas funcionalidades é constante. No começo, parece que tudo está andando em um ritmo incrível. Depois, quase sem você perceber, as coisas começam a desacelerar. Uma mudança que deveria levar um dia agora leva uma semana, bugs difíceis de reproduzir começa a virar uma rotina. Isso é o efeito prático da dívida técnica não gerenciada e um dos maiores riscos para um produto em crescimento.

Com o tempo, os pequenos atalhos e trade-offs que fizeram sentido para chegar ao mercado começam a se acumular. A capacidade do time vai sendo corroída por esse imposto invisível.

Em vez de criar valor novo, os melhores engenheiros passam o dia apagando incêndios e lidando com dependências mal resolvidas. Na prática, isso afeta o time-to-market e dificulta a inovação, porque toda ideia nova precisa ser construída em cima de uma base cada vez menos estável.

Claro que nem toda dívida técnica é um erro.

Escolher deliberadamente uma solução mais simples e rápida para validar uma hipótese de mercado é uma decisão de negócio válida, isso é um empréstimo calculado.

O verdadeiro problema é a dívida inadvertida, aquela que surge de requisitos pouco claros, prazos apertados ou da falta de padrões. Esse é o tipo de dívida que cria atrito em todo o sistema sem que ninguém tenha feito uma escolha consciente de assumi-la.

Tornando a Dívida Técnica Visível

Você não consegue gerenciar aquilo que não consegue ver. O primeiro passo é ter uma visão clara e honesta de onde os problemas realmente estão.

Isso geralmente começa ouvindo os desenvolvedores, eles sabem quais partes da base de código são dolorosas de mexer.

Formas Práticas de Encontrar e Medir Dívida

O feedback dos desenvolvedores é um ótimo ponto de partida, mas você precisa combiná-lo com dados mais objetivos para construir um panorama completo.

Ferramentas de análise estática

Ferramentas como o SonarQube conseguem varrer a base de código e apontar code smells, problemas de complexidade e duplicação. O volume de alertas costuma ser alto, então a ideia não é corrigir cada um deles individualmente. Use esses dados para identificar hotspots e tendências ao longo do tempo. Se a complexidade de um módulo crítico aumenta a cada release, isso é algo a investigar. Dependendo do cenário, avaliar alternativas ao SonarQube também pode fazer sentido.

Estruture um bom processe de Code Review

Um bom processo de PR é uma das melhores defesas contra nova dívida. Incentive os revisores a irem além do “funciona?” e perguntarem “isso é compreensível? é fácil de manter? segue nossos padrões estabelecidos?”.

Pair programming pode servir a um propósito parecido, capturando problemas de design antes mesmo de chegarem a um PR. Essas práticas são fundamentais para entender como escalar code review em um time em crescimento.

Métricas de qualidade de código

Vá além de apenas linhas de código. Observe métricas de manutenibilidade em engenharia de software que se correlacionam com dores no dia a dia.

Code churn alto, combinado com alta complexidade ciclomática, costuma indicar um módulo frágil e difícil de entender. Se essa área também tem baixa cobertura de testes, o risco operacional aumenta bastante.

O objetivo é traduzir essas métricas técnicas em impacto de negócio, mostrando, por exemplo, que esses mesmos módulos são responsáveis pela maior parte dos bugs em produção ou por problemas de performance percebidos pelo usuário.

Como Priorizar de Verdade o Pagamento da Dívida

Depois que você tem uma lista de itens de dívida técnica, a próxima pergunta sempre é: “o que a gente corrige primeiro?”. Tentar corrigir tudo de uma vez não vai dar certo, eu te garanto.

Você precisa de um framework para tomar decisões, e ele precisa estar ancorado em valor de negócio.

Frameworks para Decidir o que Corrigir em Seguida

Uma matriz simples de Impacto versus Esforço é um ótimo ponto de partida. Posicione cada item de dívida com base no impacto positivo que a correção trará versus o esforço necessário.

Quick Wins (Alto Impacto, Baixo Esforço): Corrija imediatamente. São coisas como atualizar uma biblioteca crítica com uma vulnerabilidade de segurança conhecida ou refatorar uma única função que é uma fonte constante de bugs.

Grandes Projetos (Alto Impacto, Alto Esforço): Exigem planejamento. Uma grande refatoração arquitetural entra aqui. Você precisa quebrar isso em partes menores e agendar como parte do roadmap.

Preenchimentos (Baixo Impacto, Baixo Esforço): São melhorias boas de ter. Resolva quando houver espaço ou junto com trabalho de funcionalidades relacionadas. Pense em coisas como melhorar comentários no código ou renomear variáveis para mais clareza.

Iniciativas de Baixo Valor (Baixo Impacto, Alto Esforço): Evite. Uma reescrita completa de um componente legado estável que não está causando problemas reais é um bom exemplo. A vontade de deixar tudo perfeito tecnicamente costuma levar para esse lado, mas quase nunca gera valor de negócio.

Tornando o Pagamento da Dívida Parte do Trabalho Diário

Tratar a dívida técnica como um projeto separado e pontual é um erro comum.

Inevitavelmente, ela acaba sendo deixada de lado quando surge a próxima funcionalidade urgente.

A única abordagem sustentável é integrar o gerenciamento da dívida ao ritmo de desenvolvimento do time.

Modelos Sustentáveis

Incorpore refatoração no trabalho de features

A “regra do escoteiro” é um ótimo princípio aqui: sempre deixe o código um pouco melhor do que você encontrou.

Quando trabalhar em uma nova funcionalidade, reserve um pequeno tempo para refatorar o código adjacente. Isso gera melhorias pequenas e incrementais ao longo do tempo.

Dedique tempo de forma explícita

Uma outra forma é alocar uma porcentagem fixa de cada sprint para trabalho que não é feature.

A divisão 70-20-10 (70% features, 20% plataforma/dívida, 10% correção de bugs) pode ser um bom ponto de partida.

Alguns times usam “Tech Debt Fridays” dedicadas ou sprints inteiras de refatoração a cada trimestre.

O modelo específico importa menos do que a consistência. A questão aqui é que esse tempo esteja explicitamente agendado.

Deixe claro quem é responsável e crie limites

À medida que o time cresce, fica menos claro quem é responsável. Defina responsáveis claros por serviços críticos ou componentes do código. Essas pessoas cuidam da saúde do componente no longo prazo.

Além disso, use testes automatizados para garantir que regras importantes de arquitetura continuem sendo respeitadas.

Falando com a Liderança Sobre Qualidade de Código

Uma das partes mais difíceis de gerenciar dívida técnica é comunicar sua importância para stakeholders não técnicos.

Eles não veem problemas de manutenibilidade, eles veem funcionalidades atrasadas. Você precisa fechar essa lacuna de linguagem, traduzindo problemas técnicos em resultados de negócio.

Por isso, você deve enquadrar a conversa em torno do custo de não agir. Quantifique isso sempre que possível.

Por exemplo, você pode acompanhar quanto tempo de desenvolvedor é gasto corrigindo bugs recorrentes causados por um determinado ponto de dívida.

Isso transforma uma discussão técnica abstrata em um caso de negócio concreto, com retorno claro sobre o investimento.

Conseguir um pequeno orçamento para uma iniciativa dedicada de refatoração fica muito mais fácil quando você consegue mostrar que isso vai aumentar a velocidade de entrega de features em 20% nos próximos seis meses.

Criando uma Cultura de Desenvolvimento Saudável

No fim das contas, ferramentas e processos só levam você até certo ponto.

Uma abordagem sustentável para lidar com dívida técnica passa por criar uma cultura em que qualidade é uma responsabilidade compartilhada. Isso significa sair da lógica de culpa quando algo dá errado e focar em prevenção.

Uma retrospectiva de um incidente em produção não deveria terminar em “quem subiu o código?”. Deveria terminar em “o que podemos mudar no processo para evitar que esse tipo de erro aconteça de novo?”.

Isso também exige encontrar o equilíbrio certo entre autonomia do time e padronização.

Dê poder aos times para tomar decisões técnicas, mas ofereça princípios claros que orientem temas como segurança, confiabilidade e observabilidade.

Quando times conseguem pagar uma parte significativa de dívida que destrava novas funcionalidades, celebre essa conquista publicamente. Isso reforça a ideia de que esse trabalho é valorizado e crítico para o sucesso de longo prazo da empresa.

Gerenciar dívida técnica em um contexto de crescimento rápido não é buscar uma base de código perfeita. É tomar decisões conscientes. Ao tornar a dívida visível, priorizar o que realmente importa e trazer esse cuidado para o dia a dia do time, dá para continuar entregando funcionalidades sem levar a engenharia ao limite.

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