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Equilibrando a velocidade de entrega e a qualidade do código em startups em crescimento
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Equilibrando a velocidade de entrega e a qualidade do código em startups em crescimento

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Em uma startup de crescimento acelerado, o modo padrão é entregar o mais rápido possível. Uma nova funcionalidade precisa sair para uma demo crítica, um bug está bloqueando um cliente importante, ou você simplesmente está tentando encontrar product-market fit antes que o runway fique curto. Essa pressão constante cria uma tensão natural com a manutenção de um alto padrão de boas práticas de qualidade de código, e na maioria das vezes a velocidade ganha a discussão. O problema é que pequenos compromissos, feitos pull request por pull request, começam a se acumular e acabam desacelerando tudo lá na frente.

O que começa como uma escolha pragmática de pular a escrita de diferentes tipos de testes em software ou adiar uma refatoração necessária acaba virando o modo padrão de trabalho. Não se trata de uma única decisão “ruim”. Trata-se de centenas de pequenos trade-offs que parecem razoáveis no momento, mas criam um sistema que fica cada vez mais difícil de trabalhar.

A tensão inevitável: velocidade vs. qualidade de código

A panela de pressão do crescimento em startups

Quando você está em um time pequeno com recursos limitados, tudo parece ter a maior prioridade possível. O roadmap do produto é ambicioso, o mercado é competitivo, e o negócio depende de entregar valor novo para os usuários rapidamente. Nesse ambiente, a engenharia costuma ser pressionada a iterar em ciclos rápidos, e os primeiros sinais de sucesso são medidos pelo que foi entregue, não por quão bem foi construído. Código que é “bom o suficiente para funcionar” vira o padrão, porque o custo imediato de fazer algo do jeito certo parece alto demais.

A conversa geralmente é algo assim: “A gente pode fazer do jeito certo, que leva duas semanas, ou do jeito rápido, que leva três dias.” Quando um grande contrato ou uma rodada de investimento está em jogo, a opção de três dias quase sempre vence.

Os custos ocultos de negligenciar a qualidade

No começo, cortar caminho parece funcionar. Você entrega rápido, fecha contratos e o negócio cresce. Mas, depois de alguns meses, o atrito começa a aparecer.

Um bug simples, que deveria levar uma hora para corrigir, vira dias de investigação. A lógica está espalhada, cheia de exceções, e ninguém lembra exatamente por que certas decisões foram tomadas.

O onboarding de um novo desenvolvedor leva semanas em vez de dias. A base de código depende de conhecimento que só existe na cabeça de algumas pessoas e de regras que nunca foram escritas.

Cada funcionalidade nova parece quebrar outras duas ou três. A suíte de testes, quando existe, é instável, e o time passa a não confiar nela.

Essa perda de velocidade não é só um problema técnico. Ela afeta diretamente a moral do time. Engenheiros ficam frustrados ao passar mais tempo brigando com o código do que construindo algo novo. O trabalho deixa de ser prazeroso, a troca constante de contexto cansa, e o risco de burnout aumenta. Com o tempo, alguns dos melhores profissionais começam a procurar lugares onde consigam fazer um trabalho do qual se orgulhem.

Qualidade de código como habilitador, não como gargalo

Reenquadrando a falácia do “velocidade vs. qualidade”

A ideia de que um time precisa escolher entre entregar rápido ou manter qualidade não se sustenta na prática.

O que costuma acontecer é que abrir mão de testes, refactors e clareza no código realmente acelera as próximas entregas. Duas, três no máximo. Depois disso, cada mudança começa a custar mais. Os PRs crescem, o medo de mexer em partes críticas aumenta, e boa parte do tempo vai para entender efeitos colaterais em vez de implementar a funcionalidade em si. O trade-off real não é entre velocidade e qualidade, mas entre velocidade agora e velocidade daqui a alguns meses. Qualidade é o que permite manter um ritmo previsível ao longo do tempo, sem depender de heróis ou correr riscos desnecessários a cada release.

Ajuda separar o que estamos chamando de qualidade em duas coisas diferentes.

A qualidade externa é o que o usuário percebe. A funcionalidade funciona como esperado? É estável? Responde rápido?

A qualidade interna é o que o time sente no dia a dia. Dá para entender o código sem pedir ajuda? Dá para mudar algo sem quebrar três partes do sistema? Os testes realmente dão confiança ou só existem para cumprir tabela?

Sob pressão, muitos times sacrificam a qualidade interna para manter a externa. No curto prazo, isso até funciona. Mas é um equilíbrio frágil.

Com o tempo, uma qualidade interna ruim inevitavelmente leva à queda da qualidade externa, à medida que bugs ficam mais frequentes e a performance piora.

O efeito cumulativo de um código bem construído

Escrever um bom código e bem testado gera efeitos positivos que se acumulam.

Quando a base de código é fácil de entender, os desenvolvedores conseguem fazer mudanças com confiança. Isso significa que correções de bugs são mais rápidas e têm menos chance de introduzir novos problemas. Também significa que novos membros do time se tornam produtivos muito mais rápido, pois conseguem aprender o sistema a partir do próprio código, em vez de depender de conhecimento tribal.

Uma boa qualidade interna reduz a carga cognitiva de todo o time. Quando você não precisa manter a complexidade inteira do sistema na cabeça para fazer uma pequena mudança, pode focar em resolver o problema real do negócio.

Isso leva a soluções melhores, menos erros e um ritmo de desenvolvimento mais sustentável.

Como tomar decisões de trade-off no dia a dia

O objetivo não é alcançar um código perfeito em todos os lugares. Isso é irrealista e, muitas vezes, contraproducente em uma startup.

O objetivo é tomar decisões intencionais e estratégicas sobre onde investir em qualidade e onde é aceitável ser mais pragmático. Para isso, é preciso um modelo mental para pensar nesses trade-offs.

Tomada de decisão contextual sobre qualidade de código

Nem todo código é igual. O nível de qualidade exigido deve depender do contexto do código que você está escrevendo. Aqui estão alguns filtros que podem ajudar nessas decisões:

Identifique a “zona de impacto”

Em que parte do sistema um bug ou uma indisponibilidade teria as consequências mais graves? Lógica central do negócio, sistemas de autenticação e integrações de cobrança têm uma zona de impacto enorme. Um erro ali pode ser catastrófico. Essas são áreas onde você deve exigir os padrões mais altos de qualidade. Em contraste, um script pontual para um painel administrativo interno tem uma zona de impacto bem menor e pode tolerar um nível de qualidade mais baixo.

Avalie a longevidade da funcionalidade

Você está construindo um protótipo rápido para testar uma hipótese ou a base de uma nova linha de produto importante? Funcionalidades que devem ser temporárias ou experimentais não precisam ser projetadas pensando em melhorar a manutenibilidade do código. Funcionalidades centrais, que servirão de base por anos, exigem um design muito mais robusto e extensível.

Use o filtro de decisões “reversíveis vs. irreversíveis”

Algumas decisões técnicas são fáceis de mudar, enquanto outras são extremamente difíceis. Um componente de UI mal escrito pode ser refatorado ou substituído com pouca interrupção. Um schema de banco de dados mal projetado ou um contrato de API pública, por outro lado, é quase irreversível depois que está em produção e tem usuários dependendo dele. É nesses pontos que você deve investir mais tempo e esforço para acertar.

Implementando quality gates e melhoria contínua

Para tornar esses trade-offs sistemáticos, é preciso incorporá-los ao processo de desenvolvimento. Isso significa ir além de discussões vagas sobre “código bom” e estabelecer padrões concretos.

Comece definindo padrões mínimos viáveis para diferentes partes do sistema.

Por exemplo, você pode decidir que todo código do serviço de billing exige 90% de cobertura de testes e revisão de dois engenheiros sêniores, enquanto uma nova ferramenta interna precisa apenas de linting básico e um único revisor. Usar automação via CI/CD é fundamental aqui. Linters, ferramentas de análise estática e testes automatizados conseguem capturar muitos problemas comuns sem exigir revisão manual, liberando os desenvolvedores para focar em feedback arquitetural e lógico. Avançar ainda mais nesse processo pode envolver explorar iniciativas como Como construir um motor de code review com IA

Também é preciso reservar tempo para melhorias deliberadas. Refatoração não deve ser algo que acontece “se sobrar tempo”. Deve ser uma atividade planejada, integrada diretamente aos ciclos de desenvolvimento. Isso pode significar dedicar uma porcentagem de cada sprint para entender como reduzir dívida técnica ou agendar semanas periódicas de “fix-it”, em que o time foca exclusivamente em melhorar código existente.

Promovendo uma cultura de qualidade intencional

No fim das contas, equilibrar velocidade e qualidade é um desafio cultural. Exige alinhamento entre todo o time de engenharia e também com produto e stakeholders de negócio. O primeiro passo é criar uma definição compartilhada do que qualidade significa em diferentes contextos. Isso ajuda a garantir que todos estejam alinhados com as mesmas expectativas durante o code review.

Engenheiros precisam se sentir à vontade para defender qualidade onde isso realmente importa. Se um prazo proposto é irrealista para uma parte crítica da infraestrutura, eles devem conseguir questionar e explicar os riscos de longo prazo sem serem vistos como difíceis ou lentos. Para isso, a liderança precisa entender e respeitar esses trade-offs. O papel da liderança de engenharia é proteger o time de pressões pouco razoáveis, ao mesmo tempo em que garante que o negócio consiga atingir seus objetivos. Trata-se de escolher conscientemente onde fazer concessões, em vez de deixar que a pressão do momento dite todas as decisões.

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