Se você desenvolve software, já esbarrou na dívida técnica. É inevitável. Quem nunca precisou fazer um ajuste rápido para entregar algo logo ou ignorou um teste por falta de tempo? O problema não é a dívida existir, mas como você lida com ela.
O segredo está em entender quando vale a pena assumi-la e, mais importante, como e quando pagar essa conta.
Quando a dívida técnica é um problema?
Nem toda dívida técnica é ruim. Às vezes, vale a pena abrir mão de um código perfeito para ganhar velocidade, como no lançamento de um MVP ou em uma entrega urgente. Mas se essa dívida se acumula sem controle, cada nova funcionalidade vira um desafio, e o time começa a sentir os impactos.
- Novas funcionalidades levam muito mais tempo do que deveriam para serem implementadas.
- O time passa mais tempo corrigindo bugs do que criando coisas novas.
- A frustração do time está aumentando, e desenvolvedores estão pedindo para sair.
- Cada pequena mudança exige retrabalho em várias partes do código.
- Tarefas simples começam a parecer complexas e demoradas.
Se você se identificou com esses pontos, talvez seja hora de olhar para a dívida técnica de forma mais estratégica.
Como evitar que a dívida técnica saia do controle
Não dá para evitar completamente a dívida técnica, mas dá para impedir que ela se torne um problema. Aqui estão algumas práticas que ajudam a manter a casa em ordem:
Code Reviews bem feitos: Além de garantir qualidade, code reviews são uma ótima oportunidade para compartilhar conhecimento e discutir melhores práticas. Ter um checklist de revisão pode evitar que pequenos erros virem grandes problemas no futuro.
Testes automatizados robustos: Ter uma boa cobertura de testes reduz bugs e facilita refatorações futuras sem medo.
Padrões e boas práticas bem definidos: Ter guias claros para estruturação do código e arquitetura faz toda a diferença para manter a consistência do projeto.
Escopos bem definidos: Mudanças de última hora são grandes geradoras de dívida técnica. Quando o time de desenvolvimento participa da concepção das funcionalidades, as chances de decisões mais sustentáveis aumentam.
Entregas pequenas e icrementais: Quanto menor a mudança, mais fácil de testar, revisar e corrigir. Adotar um fluxo contínuo de deploys reduz o risco de acúmulo de problemas técnicos.
Como gerenciar e reduzir a dívida técnica no dia a dia
Se a dívida técnica já se acumulou, não adianta querer resolver tudo de uma vez. O ideal é incorporá-la no fluxo de trabalho para que ela vá sendo paga aos poucos.
1. Reserve um tempo fixo para lidar com a dívida
Sprints focadas em redução de débito
Quando a dívida técnica atinge um nível crítico e está impactando diretamente a produtividade do time, pode ser necessário parar tudo e focar exclusivamente na sua resolução. Isso significa dedicar uma sprint inteira para revisar e refatorar trechos problemáticos do código, reduzir dependências obsoletas e melhorar a estrutura geral do sistema. Esse tipo de abordagem funciona melhor quando há consenso entre engenharia e produto de que os problemas técnicos estão atrapalhando entregas estratégicas.
Separar X% da sprint para resolver dívidas técnicas
Em vez de parar completamente o desenvolvimento de novas funcionalidades, uma abordagem mais sustentável é reservar um percentual fixo do tempo da equipe para resolver dívidas técnicas continuamente. Geralmente, essa porcentagem varia entre 10% e 20% da sprint. Isso permite que o time trabalhe na redução da dívida técnica de forma incremental, sem comprometer o roadmap de produto. Dessa forma, melhorias estruturais acontecem de maneira contínua, reduzindo riscos de grandes reescritas no futuro.
Friday Fix ou Refactor Friday
Algumas empresas adotam a prática de dedicar parte das sextas-feiras para pequenas melhorias no código, como refatorações pontuais, remoção de código legado, ajustes em testes ou documentação. Esse modelo cria um espaço regular para o time atacar problemas que normalmente seriam adiados por conta de prazos apertados. Além disso, dá ao time um respiro no final da semana, proporcionando uma rotina de melhoria contínua sem comprometer as entregas principais.
2. Mapeie e Priorize a Dívida Técnica
Nem toda dívida técnica precisa ser paga imediatamente. Algumas perguntas ajudam a definir prioridades:
- Isso está tornando o time mais lento?
- Os clientes estão sendo impactados? Se sim, é um bug e precisa ser resolvido rápido.
- O custo de manutenção está ficando alto? Quanto mais cara a dívida, mais urgente ela é.
- Ninguém usa essa funcionalidade? Talvez essa dívida possa esperar um pouco mais.
3. Melhore a Revisão de Código
Ter um checklist para revisões de código ajuda a evitar novas dívidas. Algumas perguntas úteis:
- Esse código segue nossos padrões?
- Estamos criando um novo débito ou resolvendo um existente?
- Dá para simplificar ou modularizar essa solução?
Como a dívida técnica impacta o time
Dívida técnica não é só um problema do código – ela afeta diretamente as pessoas. Um sistema cheio de problemas deixa o time desmotivado e sobrecarregado. A frustração cresce, a produtividade cai e, no fim, você pode acabar perdendo bons desenvolvedores.
E isso não é exagero: uma pesquisa recente do Stack Overflow mostrou que 63% dos desenvolvedores consideram a dívida técnica uma das maiores frustrações do dia a dia.
Se você é líder de engenharia, criar um ambiente onde a qualidade do código é valorizada pode fazer toda a diferença. Um time que trabalha em um código bem estruturado entrega mais rápido, com menos estresse e mais motivação.
O que você pode fazer hoje?
Lidar com dívida técnica não precisa ser complicado. Aqui estão três passos simples que você pode começar agora mesmo:
- Identifique as dívidas técnicas mais críticas e documente o impacto delas.
- Reserve um tempo fixo nas sprints para resolvê-las.
- Incentive o time a sempre melhorar um pouco o código em cada interação.
A dívida técnica não vai desaparecer sozinha, mas se você começar a tratá-la como parte da estratégia de engenharia, em vez de um problema para o “eu do futuro” resolver, seu time vai ganhar velocidade, produtividade e, acima de tudo, qualidade no que entrega.